Os feitos de Gilgamesh, rei de Uruk, na antiga Mesopotâmia, foram
cantados por dois mil anos até que um grande incêndio, em 612 a.C. devastou a
biblioteca de Nínive, que guardava os registros escritos. Sem eles, o nome de
Gilgamesh foi sendo pouco a pouco esquecido até desaparecer completamente.
Desapareceram, também, os registros das sociedades que povoaram a Mesopotâmia e
regiões vizinhas, e com eles, o passado do Oriente Próximo. Passaram-se outros
dois mil e quatrocentos anos quando o arqueólogo britânico Austen Henry Layard
descobriu as ruínas soterradas da biblioteca de Nínive, em meados do século
XIX. Foram encontradas cerca de 30.000 plaquetas de argila com escrita
cuneiforme. Eram fragmentos que formavam 1.200 textos distintos. Entre eles,
estavam as 12 plaquetas contendo a Epopeia de Gilgamesh. A fabulosa história
desse herói foi recuperada 48 séculos depois de seu reinado e, mais uma vez,
encantou historiadores e o público leigo.
A Epopeia de Gilgamesh é um antigo poema épico mesopotâmico, escrito pelos sumérios em algum momento em torno de 2000 a.C. Essa história narra os feitos de Gilgamesh, rei de Uruk, em sua procura pela imortalidade. Ela é considerada a obra de literatura mais antiga da humanidade. Como parâmetro disso, basta lembrar que os famosos poemas homéricos surgiram cerca de 1500 anos depois dessa epopeia suméria. A Epopeia de Gilgamesh foi localizada por arqueólogos em doze tábuas de argila, cada qual contendo cerca de 300 versos. No entanto, historiadores consideram apenas as 11 primeiras tábuas, uma vez que a 12ª possui uma versão sintética da história que contradiz as outras inscrições. Essas tábuas foram encontradas em uma escavação que ocorreu no século XIX, na região onde ficava a antiga cidade assíria de Nínive. Essas escavações eram conduzidas pelo arqueólogo britânico Austen Harry Layard, que, em 1849, localizou uma série de itens pertencentes à Biblioteca de Nínive, dos quais as tábuas da Epopeia de Gilgamesh faziam parte.
O trabalho de tradução da obra foi realizado por Henry Rawlinson e George Smith na segunda metade do século XIX. A tradução desse poema épico somente foi possível graças à Inscrição de Dario, que transcrevia caracteres cuneiformes para três idiomas: persa, babilônio e elamita. Esse trabalho foi ampliado quando novos trechos da história foram encontrados posteriormente.
A obra
encontrada nessa época foi escrita pelos sumérios e recebeu o nome de
Sha-naqba-imru (Aquele que viu a profundeza) ou Shutur-eli-sham (Aquele que se
eleva sobre todos os reis). Tempos depois, o original dela em sumério foi
transcrito a mando do rei assírio Assurbanípal (668 a.C. - 627 a.C.) e foi
armazenado na Biblioteca de Nínive. A Epopeia de Gilgamesh parece ter sido
bastante conhecida na região, pois pesquisas localizaram diversas traduções e
adaptações feitas a partir dela, em idiomas como o hitita e hurrita e em
diferentes locais como Nippur, Uruk e na antiga capital hitita, que se chamava
Hattusa.
A narrativa da Epopeia de Gilgamesh conta os eventos de Gilgamesh, rei
de Uruk. De acordo com a Lista Real Sumeriana (lista todos os reis sumérios),
ele foi o quinto rei dessa cidade. Segundo ainda essa lista, o reinado de
Gilgamesh sobre Uruk foi de 126 anos, e ele aparece no épico como filho da
deusa Ninsuna. Esse rei sumério existiu, provavelmente, no período entre 2800
a.C. e 2500 a.C. Na história narrada pelo poema, Gilgamesh é apresentado como
um rei despótico, arrogante e que oprimia o povo da cidade de Uruk. Os deuses,
então, criaram Enkidu do barro e enviaram-lhe ao encontro de Gilgamesh com a
missão de torná-lo mais humilde. Os dois tornaram-se amigos e iniciaram uma
trajetória marcada por muitas aventuras, e, em uma dessas aventuras, ambos
desrespeitaram a deusa Inana. Os deuses resolveram matar Enkidu como punição
pelo desrespeito a essa deusa, e, Gilgamesh, entristecido, iniciou uma outra
jornada em busca da imortalidade.
Nessa jornada pela imortalidade, Gilgamesh foi ao encontro de Utnapishtim, um herói conhecido por ter alcançado a imortalidade após sobreviver a um grande dilúvio. Durante esse grande dilúvio, Utnapishtim teria construído uma grande arca a mando dos deuses e abrigado sua família e um grande número de animais nela. Esse herói prometeu a imortalidade para Gilgamesh, desde que ele cumprisse algumas missões. Entretanto, o rei falhou nessas missões e retornou para Uruk. A menção ao dilúvio é uma parte da narrativa que chama a atenção por causa da semelhança com a narrativa bíblica sobre o dilúvio e a trajetória de Noé. Os historiadores acreditam que a história suméria tenha servido de influência para a formulação da narrativa hebraica sobre o dilúvio. Esses especialistas sugerem ainda que, além desse, existam outros aspectos da cultura hebraica que também foram herdados da cultura suméria."
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